domingo, 11 de fevereiro de 2018

Bolsonaro, o mercado financeiro e o genocídio


 Jair Bolsonaro foi convidado para dar uma palestra a mais de mil executivos do mercado financeiro em evento patrocinado pelo banco BTG Pactual. Aquele que era presidido por André Esteves. Se você não lembra quem é ele, dá uma pesquisada no Google depois de ler este texto. Questionado sobre qual seria sua solução para a questão da criminalidade na Rocinha, o candidato à presidência disse que mandaria um helicóptero jogar panfletos dizendo que os bandidos tinham seis horas para se entregar. Após este período, sairia metralhando todo mundo que continuava lá dentro. A plateia riu e aplaudiu. A plateia riu e aplaudiu. Repetindo, a plateia riu e aplaudiu.
Em seu livro “Gostaríamos de informa-los que amanhã seremos mortos com nossas famílias”, sobre o genocídio dos tutsis em Ruanda em 1994, o autor Phillip Gourevitch tenta mostrar que todo genocídio é resultado de um processo histórico. Anos de retiradas de direitos resultam em um momento em que aqueles que são oprimidos restam apenas com a vida como direito, sendo o próximo e último passo “lógico” o extermínio. Mais do que isto, é um processo que tanto opressor como oprimido enxerga como natural. Hannah Arendt em “Origens do Totalitarismo” apresenta uma visão semelhante do que levou a população europeia a assistir passivamente, muitas vezes inclusive contribuindo, ao holocausto e porque não houve tanta resistência judaica ao extermínio que estava ocorrendo. Segundo ela, séculos de maus tratos levaram a própria população judaica a enxergar aquilo que ocorria com certa naturalidade.
Nunca antes no Brasil o ódio e o preconceito fizeram tanta parte do “debate” político. Coloco debate entre aspas porque acredito que seja impossível algum tipo de diálogo útil e produtivo com pessoas como Bolsonaro. A parte mais perigosa sobre o que acontece, o sintoma mais grave, é a forma natural como aceitamos o que é dito por ele e principalmente o forte apoio que ele encontra em diversos setores sociais. Sem Lula, tirado da corrida presidencial por um processo fajuto, Bolsonaro lidera a corrida eleitoral. Releia o primeiro parágrafo e reflita que é este candidato que lidera atualmente a disputa e que há uma chance real deste candidato ir ao segundo turno. E ninguém parece estar muito preocupado com isto. Num passado não muito distante, as frases do deputado sobre o estupro da deputada Maria do Rosário ou reclamando que a ditadura deveria ter matado FHC geravam ao menos declarações de repúdio na grande mídia e nos partidos. A frase com a proposta sobre o genocídio do líder nas campanhas presidenciais não gerou repercussão. A sociedade naturalizou o sucesso do fascismo. Talvez algum destes mil que riram e aplaudiram estarão em algum programa da Globo News dando dicas de economia, aliás.
O mesmo mercado financeiro que aplaudiu e riu da proposta de genocídio de Bolsonaro comemorou a condenação de Lula. Fará tudo para controlar o processo eleitoral. Responderá mal a qualquer avanço de um candidato progressista, rirá e aplaudirá do progresso do candidato fascista. Dinheiro e fascismo sempre andaram lado a lado. Ele ainda não prefere o fascista, mas já se mostra bem disposto a ir com ele até o fim. O mercado financeiro não dá muita importância para ética. Basta ver que as ações de produtoras de armas nos EUA sempre sobem quando assassinatos em massa ocorrem.
Todos nós conhecemos pessoas que pensam como Bolsonaro. Já ouvi diversas falando este tipo de barbaridades. Elas têm ódio e meio que se encontraram através das redes sociais e no processo de impeachment de Dilma. Víamos repetidamente gritos deste tipo ou outros pedindo intervenção militar nas passeatas do verde-e-amarelo de 2015 e 2016. A grande mídia repetia que eram passeatas “pacíficas”. Pois bem, as pessoas “pacíficas” encontraram a pessoa capaz de expor e saciar todo seu ódio. No fundo o que elas querem é um “Estado psicopata”.

Medo, consumismo e preconceito. Período assustador. Repetindo o que o candidato que lidera as pesquisas sem Lula disse num evento para o mercado financeiro. Questionado sobre qual seria sua solução para a questão da criminalidade na Rocinha, o candidato à presidência disse que mandaria um helicóptero jogar panfletos dizendo que os bandidos tinham seis horas para se entregar. Após este período, sairia metralhando todo mundo que continuava lá dentro. A plateia riu e aplaudiu. A plateia riu e aplaudiu. Repetindo, a plateia riu e aplaudiu.

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